O prêmio da academia é um dos maiores méritos que qualquer profissional do cinema pode receber. No ano de 2021, a cerimônia de premiação aconteceu dia 25 de abril e ficou marcado pela maior diversidade entre os indicados desde a sua primeira cerimônia em 1929. Lembrando que a Academia sofreu diversas críticas nos últimos anos por premiar majoritariamente homens brancos, como a hashtag #OscarsSoWhite, que rodou o mundo e obrigou um dos prêmios mais tradicionais do Cinema a se renovar e chegar em 2021 (finalmente!) no “Oscar da Diversidade”.
AND THE OSCARS GOES TO…
Entre as categorias disputadas e seus premiados em 2021 estão:
Melhor filme: Nomadland
Melhor ator e atriz em papel principal: Anthony Hopkins (Meu Pai) e Frances McDormand (Nomadland)
Melhor direção: Chloé Zhao (Nomadland)
Melhor ator e atriz coadjuvante: Daniel Kaluuya (Judas e o messias negro) e Youn Yuh-jung (Minari)
Melhor Filme internacional: Druk – Mais uma rodada
Melhor Roteiro adaptado: Florian Zeller e Christopher Hampton (Meu Pai)
Melhor Roteiro original: Emerald Fennell (Bela Vingança)
Melhor Figurino: Ann Roth (A Voz Suprema do Blues)
Melhor trilha sonora: Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste (Soul)
Melhor animação: Soul
Melhor documentário: Professor Polvo
Melhor curta-metragem animação: Se algo acontecer, te amo.
Melhor curta-metragem live-action: Dois Estranhos Distantes
Melhor curta-metragem documentário: Collete
Melhor som: O Som do Silêncio
Melhor canção original: Fight for you (Judas e o Messias Negro)
Melhor maquiagem e cabelo: A Voz Suprema do Blues
Melhor efeitos visuais: Andrew Jackson, David Lee, Andrew Lockley e Scott Fisher (Tenet)
Melhor fotografia: Erik Messerschmidt (Mank)
Melhor montagem: Mikkel E.G Nielsen (O Som do Silêncio)
Melhor design de produção: Jan Pascale e Donald Graham Burt (Mank)
MELHOR FOTOGRAFIA
Os nomeados à Melhor Fotografia foram Judas e o Messias Negro, Mank, Relatos do Mundo, Nomadland e Os Sete Chicago. Os diretores de fotografia Joshua James Richards (NOMADLAND) e Erik Messerschmidt (MANK) eram os principais concorrentes, entretanto, como esperado, Mank levou essa categoria.
MANK
Apesar da concorrência qualificada, Mank passou por cima de todos e levou para casa a estatueta de Melhor Fotografia. O vencedor da categoria conta a história de Herman Mankiewicz, roteirista de Cidadão Kane, filme indicado a nove Oscars em 1942.
Todavia, muito mais do que desenvolver a narrativa sobre o processo de roteirização nas décadas de 30/40, a equipe de Mank entrega uma homenagem ao filme pelo qual qualquer amante de Cinema é apaixonado ou, no mínimo, respeita: Cidadão Kane, filme de Orson Welles de 1941 considerado até hoje como uma das melhores produções de todos os tempos. A homenagem se estende desde o roteiro, passando pela produção (a reconstituição histórica) até a fotografia impecável de Erik Messerschmidt.
A escolha do preto e branco não é novidade. Roma já levou a estatueta em 2019 com a mesma estratégia, mas a qualidade da luz e sombra, criando diversos tons entre o preto e o branco chamam a atenção. Nessa missão, o diretor de fotografia teve uma grande aliada, a câmera RED Ranger Helium Monochrome, câmera digital 8K usada para filmar Mank. Uma especificidade reside no fato dela gravar apenas em preto e branco.
Outra escolha do diretor foi usar uma técnica cinematográfica conhecida como profundidade de campo, colocando em foco tanto as figuras perto da câmera (em primeiro plano), quanto o fundo. Vale lembrar que a escolha do diretor, além de estética, salienta-se uma referência, mais uma vez, a Cidadão Kane, visto que essa técnica foi aperfeiçoada e popularizada justamente por Welles e Toland (diretor de fotografia).
Observe a seguir a técnica utilizada na mais icônica de Cidadão Kane, quando os pais negociam a criança em primeiro plano, enquanto, alheio, o menino brinca no quintal. Cidadão Kane permitiu que o espectador acompanhasse tudo ao mesmo tempo. Tudo na imagem está em foco.
A CONCORRÊNCIA
Nomadland era um rival e tanto para Mank. Sua história se passa majoritariamente em espaços externos vastos e abertos, como descampados, enquanto a câmera acompanha a jornada de Fern pela estrada, pulando de trabalho em trabalho. James Richards, o diretor de fotografia, usou equipamentos simples, se comparado com Mank, e conseguiu um efeito documental, criando conexão entre a protagonista e o espectador, nos colocando na pele de Fern.
Relatos do Mundo segue na linha de locais abertos, como Nomadland, mas se passa nos anos de 1870. Dariusz Wolski conseguiu captar a beleza sutil das atuações de Tom Hanks e Helena Zengel, ao mesmo tempo em que contrastava o caos interno dos protagonistas com a vastidão e vazio dos ambientes. A atmosfera construída é, sem dúvida, o destaque de Relatos do Mundo.
Enquanto isso, Sean Bobbitt por Judas e o Messias Negro fez um resgate histórico da luta dos panteras negras, em especial do seu líder Fred Hampton e da sua relação com o traidor O’Neal. Com uma fotografia forte, é importante destacar a cena final do filme, do assassinato de Fred Hampton, filmada dentro de um apartamento.
Historicamente alocada no mesmo período (anos 60), o diretor de fotografia Phedon Papamichael, em Os Sete Chicago, abusa de planos fechados para ressaltar as interpretações e se desafia a filmar grupos de pessoas grandes, seja no tribunal ou nos protestos.
Resumindo, Mank é um bom filme, em especial para quem já assistiu a obra de Orson Welles. Além disso, possui uma qualidade técnica e fotográfica incontestável, pela qual mereceu o Oscar de Fotografia e Design de Produção, mas ficou por aí, enquanto Nomadland levou as principais categorias e filmes como Bela Vingança, O Som do Silêncio e A Voz Suprema do Blues surpreenderam e também garantiram suas estatuetas. E você, o que achou da temporada de premiações?