Conheça o cenário do cinema brasileiro e streaming no pós-pandemia

A Rockset planeja construir complexo de cinema em Santa Catarina, visando impulsionar o turismo e o setor audiovisual no estado

A pandemia de covid-19 representou um período desafiador para a indústria cinematográfica global. Considerada uma atividade não essencial, o cinema foi um dos setores da economia mais afetados pelas restrições sanitárias. 

O fechamento das salas de cinema levou diversos estúdios a interromperem as gravações e adiarem os lançamentos. Contudo, essa fase complicada se tornou mais um capítulo dos livros de história.

De acordo com um estudo da consultoria PwC intitulado “Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2022-2026”, o cinema nacional é projetado para alcançar uma taxa anual de crescimento de 32,1% entre 2022 e 2026, enquanto o mercado de streaming deve crescer a uma taxa anual de 9,8% no mesmo período.

É importante ressaltar que, apesar da crise enfrentada pelo cinema durante a pandemia, o isolamento social impulsionou o crescimento das plataformas de streaming. 

Antes, a Netflix reinava praticamente sozinha, mas hoje ela divide espaço com plataformas financiadas por grandes empresas, como o Disney+, HBO Max e o Globoplay.

Apesar do crescimento, em comparação com outras atividades econômicas, estima-se que o cinema brasileiro só voltará aos níveis pré-pandêmicos em 2026, quando a receita do setor deve alcançar US$ 681 milhões,cerca de R$ 3,25 bilhões. Em 2022, a receita foi de US$ 404 milhões, cerca de R$ 1,93 bilhões.

A PwC projeta um total de 191 milhões de ingressos de cinema vendidos em 2026, abaixo dos 206 milhões registrados em 2019.

Para Ricardo Queiroz, sócio da PwC Brasil, as oportunidades para a cadeia de negócios do setor audiovisual no país estarão no equilíbrio entre o cenário catastrófico ensaiado pelo vazio das salas de cinema em 2020, que atrasou produções, filmagens e lançamentos, e a euforia dos investimentos aparentemente ilimitados das plataformas de streaming.

O Brasil disputa a posição de segundo ou terceiro maior mercado de streaming do mundo, como destacado pelo executivo em entrevista ao Estadão.

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A crise do modelo Netflix e a multiplicação dos streamings

Mas nem tudo são flores, pelo menos para a Netflix. A empresa do Tudum registrou uma queda no número de assinantes em 2022, sendo a primeira diminuição em 11 anos.

Na época, a empresa explicou que o motivo do recuo no número de assinantes foi a disparada da inflação em todo o mundo, impulsionada pelos efeitos finais da pandemia e da invasão russa na Ucrânia.

Diante disso, a locadora vermelha tomou uma decisão considerada polêmica entre os usuários, que foi a limitação do compartilhamento de senhas. A medida foi uma forma de aumentar o número de assinantes. Além disso, a Netflix criou um plano mais barato de R$ 18,90, mas que contém anúncios para financiar esse modelo mais econômico.

Inicialmente, a Netflix utilizava o conteúdo cinematográfico de outros estúdios em suas plataformas e navegava em águas tranquilas. Porém, os estúdios perceberam o potencial de lucro que poderiam ter ao lançar suas próprias plataformas de streaming.

Em novembro de 2019, nos Estados Unidos, e em 2020, no Brasil, o Grupo Disney deu o primeiro passo ao lançar a plataforma Disney+. Desde então, essa plataforma do estúdio homônimo tem continuado a crescer em número de assinantes.

Em 2021, foi a vez da estreia da plataforma Paramount Plus. No mesmo ano, a Warner Media – detentora dos canais CNN, HBO, TNT e do estúdio de cinema Warner Bros. – e controlada pela gigante americana das telecomunicações AT&T, anunciou a fusão com a Discovery. O presidente da AT&T, John Stankey, mencionou “as oportunidades de streaming direto para o consumidor” para justificar o negócio. A partir dessa fusão, surgiram o HBO Max e o Discovery Plus.

A Netflix também enfrenta a concorrência de empresas com capacidades bilionárias de investimentos em produções próprias, que parecem focar menos nas receitas com assinaturas e mais na atração de consumidores dispostos a gastar em outras opções, como a Apple TV e a Amazon Prime Video.

No início deste ano, a gigante americana do comércio eletrônico e da tecnologia oficializou a aquisição do estúdio de cinema MGM por US$ 8,45 bilhões, visando o vasto e tradicional acervo de filmes, com foco no streaming.

Além disso, as plataformas de streaming também estão adentrando no universo dos esportes. A HBO Max transmite o Campeonato Paulista e a UEFA Champions League, o maior torneio de clubes do mundo. Enquanto isso, o Prime Video possui os direitos de transmissão da Copa do Brasil e exibe grande parte dos jogos da NBA. Sem esquecer do Globoplay, que utiliza a estrutura do Grupo Globo para oferecer partidas exclusivas na plataforma, além de comercializar os jogos do Premiere e transmitir os jogos da Globo em TV aberta.

O avanço dos serviços de streaming representa mais uma oportunidade de negócios para o cinema brasileiro. Os estúdios não precisam depender exclusivamente das salas de cinema, podendo aproveitar a ampla oferta oferecida pelos serviços de streaming.

E o cenário nacional?

Voltando ao estudo da PwC, o relatório destaca a posição do Brasil no consumo de produtos audiovisuais, além do país ter uma oferta de conteúdo local interessante. Apenas o Globoplay receberá um investimento de R$ 1 bilhão da Globo para unificar as marcas e canais do grupo por meio da estratégia “Uma Só Globo”. Em 2021, o Globoplay registrou um salto de 42% no número de assinantes, conforme informado pela consultoria no estudo. Inclusive, o canal brasileiro cresce mais que a gigante Netflix.

Em 2022, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) relata que houve um crescimento de 82% no público em comparação ao ano de 2021, totalizando 95,1 milhões de pessoas. Em relação à renda, houve um aumento de 98,8%, chegando a R$ 1,8 bilhão.

Comparando com 2019, ano referência anterior à pandemia, o público em 2022 apresentou uma queda de 46,5%, e a renda total caiu 35,4%. Quanto ao número de salas de exibição, em 2022 (3.401 salas), chegou próximo ao patamar de 2019 (3.507 salas). Em 2020, a Ancine registrou 1.860 salas em funcionamento, e em 2021, o número saltou para 3.266.

A agência destaca que a participação dos filmes brasileiros ficou abaixo da média, representando 4,2% do público e 3,9% da renda. No entanto, houve uma melhora na comparação com 2021, quando a participação nacional representou apenas 1,8% da bilheteria. No ano passado, os cinco filmes brasileiros mais vistos nos cinemas foram “Turma da Mônica: Lições”, com um público de 542,6 mil pessoas, “Tô Ryca! 2” (515,2 mil), “Detetives do Prédio Azul 3” (424,6 mil), “Medida Provisória” (407,4 mil) e “Eduardo e Mônica”, que atraiu 389 mil pessoas.

De acordo com a Ancine, os números ficaram muito abaixo do último sucesso nacional de bilheteria, o recordista “Minha Mãe É Uma Peça 3”, lançado no final de 2019, que em menos de um mês foi visto por 8,6 milhões de espectadores e arrecadou R$ 137,8 milhões. O recorde anterior era de “Minha Mãe é uma Peça 2”, de 2016, com público de 9,2 milhões de pessoas e arrecadação de R$ 124,6 milhões.

Vale do Itajaí será mais um polo do cinema brasileiro

A Rockset tem planos ambiciosos para os próximos anos, visando a construção de um complexo cinematográfico em Santa Catarina. O principal objetivo é transformar a região em um polo do setor, impulsionando o turismo no estado através de mais produções e qualificação profissional.

De acordo com Luiz Razia, sócio-diretor da empresa, o projeto tem potencial para mobilizar a região de diversas formas. Ele destaca que cerca de 67% dos gastos com produção cinematográfica são direcionados a outros setores, como gastronomia, hotelaria, transporte e serviços jurídicos e financeiros. Dessa forma, o complexo cinematográfico pode gerar mais movimentação econômica, crescimento e oportunidades de emprego para Santa Catarina.

A informação foi divulgada durante o lançamento do curta-metragem “Código Pirata”, uma produção que surgiu a partir das primeiras turmas da Oficina Rockset, outro projeto lançado pela empresa com o objetivo de qualificar a mão de obra local e que caminha paralelamente à construção do complexo.

Confira a prévia do curta-metragem:

O complexo cinematográfico, localizado no Vale do Itajaí, terá uma área construída total de mais de 21 mil metros quadrados, além de mais de 7 mil metros quadrados de estacionamento. Suas instalações incluirão a sede da produtora, salas de cinema, anfiteatro, museu do cinema, restaurantes temáticos, cafés e lojas.

Rodrigo Barbosa, também sócio-diretor da Rockset, acredita que o estado oferece cenários completos para grandes produções cinematográficas. Ele destaca que em um raio de 200 quilômetros de Itajaí, é possível encontrar uma variedade de locações, desde praias e dunas até montanhas e cânions, além de áreas urbanas e estradas. Com essa diversidade, a expectativa é atrair mais projetos que possam ser exibidos tanto em salas de cinema quanto em plataformas de streaming.

O Secretário de Turismo de Santa Catarina, Evandro Neiva, também elogia o projeto da Rockset, considerando que o estado tem muito a explorar no segmento audiovisual. Ele vê na iniciativa uma oportunidade de divulgar o turismo além das praias e mares já conhecidos, seguindo exemplos de outros países como a África do Sul e Ásia, que se desenvolveram nessa área.

Segundo dados do Itaú Cultural, o PIB da economia da cultura e indústrias criativas corresponde a 3,11% do total, ultrapassando até mesmo a indústria automobilística, que conta com 2,5%. 

Diante disso, a Rockset está empenhada em implementar a governança corporativa para fortalecer ainda mais a empresa em termos empresariais. 

Em seguida, eles apresentarão o plano de negócios do complexo às autoridades públicas e outros empresários, incluindo nos Estados Unidos. 

Essa fase levará algum tempo e trará dados completos e estudos sobre o impacto positivo do projeto em Santa Catarina, finaliza o sócio-diretor da empresa.